UMA REVISITAÇÃO ETNOGRÁFICA DE FLOR DA ROSA
PT / 2021
em colaboração com a antropóloga /
in collab with the antropologist
Ema Pires
an article at Etnográfica magazine
PT / 2021
em colaboração com a antropóloga /
in collab with the antropologist
Ema Pires
an article at Etnográfica magazine

É na experiência do diverso, no conflito e na cooperação colectiva sobmecanismos de dominação que se preserva e se transforma o espaçofísico e social. Nesse espaço que se repleta de linhas, fronteiras,territorializações e hierarquizações, a vida social confronta-se coma pluralidade de regras e convenções que correspondem a valoreshabitualmente implícitos. Na simultaneidade em que o poder seexerce (aberto - fechado, interior - exterior, público - privado,homogéneo - fragmentado, permitido - proibido) o indivíduo vê-se invadido por estados que se balanceiam entre a submissão e avontade de libertação.Na condição de ser humano, e na sua necessidade de adquirirtempo e espaço significante de liberdade de movimentação, este, deespírito crítico activo na confrontação de pré-conceitos, de usos e dehábitos que, desde cedo lhe vão sendo incutidos, impõe-se contraa docilidade torpe, e irreflectida provocada por esses mecanismosde dessubjectivação. Essa resistência, tida usualmente como actodesviante/ transgressor é, no entanto, o início de um fluxo deprocessos de construção de trajectórias diferenciadas rumo à (re)descoberta e à (re) criação.A arquitectura, enquanto disciplina de saber-poder, que desempenhaum papel crucial na gestão de previsibilidades e coordenação deprobabilidades, é (ou pode ser), ao mesmo tempo, impulsionadora demovimentos, criadora de espaços e de práticas potenciadoras dessafuga "entre".Nesta dissertação, utiliza-se a observação directa do contexto dehospital psiquiátrico para apreender a vivência nesses espaçosconstruídos entre a ordem e o desvio. O objecto empírico de dimensãoreduzida, de terreno confinado a regras estritas, serve, assim, derepresentatividade para hipóteses gerais da compreensão da práticadesses espaços.Verifica-se que este espaço, que se inclui nas inúmeras séries dedispositivos e equipamentos técnicos que controlam o movimentodas coisas e das pessoas, encerra em si antagonismos que lhe tornainstável a sua definição; sendo recorrente a dubiedade das relaçõesnele decorridas. Ou seja, nos espaços de controlo a insubmissãocontinua presente, assim como nos espaços de libertação não deixa,contudo, de existir opressão. Desta forma, a liberdade encobreautoridades sob a imagem da livre organização, assim como, nasombra do poder nasce a subversão.


© Mafalda Salgueiro 2021